2a Tango poluído

 

 

 

 

Ai que bom, que bom que é
Ai que grande reinação,
Não há no mundo melhor
Que viver em poluição.

Aos domingos, no Verão
Lá vou eu de madrugada,
Recompor-me da saúde
Nas praias da Cruz Quebrada.
Banhando-me ao pé do esgoto
Respirando os seus odores,
Ao chegar ao fim do dia
Vou p'ra casa com mais cores.

Fui um dia p'ra montanha
E passei um mau bocado
Respirando o tal ar puro
Quase morri sufocado.
Fiquei logo com os pulmões
A pedir por caridade
O cheiro a óleo queimado
Que respiro na cidade.

Não me venhas com a conversa
Das comidas naturais
Dás-me cabo dos tomates
Com esses sermões papais.
O frango só com hormonas
Salsichas só enlatadas
Peixinho só do Barreiro
E frutas bem sulfatadas.

Há para aí quem diga mal
Da nossa Televisão
Mas dela já não me passo
P'ra minha cultivação.
Vinte e cinco horas por dia
De cultura e informação
Poluindo a consciência
Tudo a Bem da Nação.

Vi um tal da ecologia
Gritando como um possesso
Contra a bomba nuclear
contra a bomba do progresso.
Fiz-lhe ver que estava errado
Pois não há nada mais belo
Nem há morte mais limpinha
Que o quente do cogumelo.

Disse-me um da intervenção
"Lá estás tu com essa mania,
A cantar o tango assim
Estás a imitar o Letria".
Mas eu estou certo e seguro
Que o Jojo não leva a mal
Embora ele tenha a patente
Do tango em Portugal.

 

luis cilia

Poesia de

Luis Cilia

 

Caixa de texto: "Marginal"

 

 

 

 

 

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