4a Dez réis de esperança

 

 

 

 

 

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

 

luis cilia

Poesia de

António Gedeão

 

 

Caixa de texto: "La poésie portugaise de nos jours et de toujours – 3"

 

 

 

 

 
 

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esta faixa foi reeditada  na URSS, pela editora Melodyia (anos prováveis 1973 ou 74), sem conhecimento do autor num EP.