3a Fala do homem nascido

 

 

 

 

 

Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
 

luis cilia

Poesia de

António Gedeão

 

 

Caixa de texto: "La poésie portugaise de nos jours et de toujours – 3"

 

 

 

 

 

Canções neste disco:

<Anterior  -  Seguinte>

 

página inicial

esta faixa foi reeditada no cd colectânea

esta faixa foi reeditada  na URSS, pela editora Melodyia (anos prováveis 1973 ou 74), sem conhecimento do autor num EP.